terça-feira, 22 de agosto de 2017

O predicamento humano - Por Djesniel Krause

Sentido? Sentidos?
Eis o predicamento humano constante...

Só o SENHOR É O SENTIDO!









O predicamento humano não se trata de um argumento dedutivo como o argumento cosmológico ou o argumento moral, mas é um indicativo bastante convincente da existência de Deus e um ponto de contato valioso, capaz de alcançar diversas faixas etárias e classes sociais.
Ele diz respeito à busca humana por sentido, valor, eternidade e propósito.
Em todas as épocas, homens e mulheres sentem um vazio dentro de si, que nada consegue preencher, uma busca incessante que nunca alcança seu objetivo.
McGrath comenta que “Em um de seus diálogos, Platão compara os seres humanos a jarros que estão vazando. De alguém modo, estamos sempre incompletos. Podemos despejar coisas nos recipientes de nossa vida, mas há algo que impede que o jarro fique cheio”[1].
A partir do iluminismo, o homem moderno tentou de diversas maneiras eliminar Deus, tentou livrar-se do que o impedia de viver sua imoralidade sem precisar temer a um juiz supremo, quando se deu conta, porém, o homem também se livrou de toda a possibilidade de encontrar sentido e significado verdadeiro para a sua vida.
Na ânsia de encontrar a felicidade, o ser humano extinguiu toda a possibilidade de encontra-la.
Willian Lane Craig reflete que “O homem moderno pensou que, depois que se livrou de Deus, tinha ficado livre de tudo o que o reprimia e sufocava. Em vez disso, descobriu que, ao matar Deus, matara também a si mesmo”[2].
O filósofo ateu do século XIX, Friedrich Nietzsche se deu conta disto:
“Onde está Deus?”, ele grita. “Eu lhes direi. Nós o matamos – vocês e eu. Todos nós somos seus assassinos. E como fizemos isso? Como pudemos beber o mar? Quem nos deu a esponja para apagar todo o horizonte? O que fizemos quando desamarramos esta terra do seu sol? Para onde ela está se movendo agora? Para longe de todos os sóis? Não estamos caindo sem parar? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as direções? Restou alguma coisa em cima ou embaixo? Não estamos vagando como que por um nada infinito? Não estamos sentindo a respiração do espaço vazio? Não ficou mais frio? Não está chegando cada vez mais a noite? Não estamos tendo de acender lampiões de manhã? Não ouvimos apenas o barulho dos coveiros que estão sepultando Deus? […] Deus está morto […]. E nós o matamos. Como nós, os maiores de todos os assassinos, iremos consolar a nós mesmos?”[3].
Este sentimento, descrito por Nietzsche, de ter o seu horizonte apagado, é assolador, é inato ao ser humano a busca por algo além.
Alguns intelectuais, que não veem alternativa a não ser aceitar os fatos, tem de se auto enganar, e inventar o seu próprio sentido e propósito, o que, claro, não passa de ilusão consciente.
Jean-Paul Sartre por exemplo, “discorre sobre o desejo inato do ser humano de negar sua incapacidade de achar satisfação no mundo. É quase como se não pudéssemos viver com a idéia de que a satisfação sempre nos escapará”[4].
Talvez Sartre esteja correto, talvez a única esperança do ser humano seja inventar seu próprio sentido e viver nesta ilusão, até que a morte se aproxime e seja então o fim de todas as possibilidades, mesmo o desejo de entrar para a história é ilusório, pois também ela se extinguirá ao esfriar do sol, no fim do sistema solar, e mais adiante, na ruína do universo inteiro.
Talvez Bertrand Russell estava com a razão quando disse que “O Universo simplesmente está ali, e isso é tudo”[5], ou talvez, haja realmente algo a mais, talvez o ser humano busque, não uma ilusão, mas sinta uma saudade real.
Agostinho de Hipona escreve sobre isto de forma poeticamente bela, “Porque nos criastes para Vós e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Vós”[6].
Há de argumentar-se que o desejo humano por sentido e eternidade possuem um fundamento verdadeiro, Ravi Zacharias afirma que “Reagimos à velocidade do tempo porque, nas profundezas da alma, somos ‘criados para a eternidade’”[7].
Mas apenas a eternidade não basta, como bem coloca J.P. Moreland, “Conceder a eternidade a uma vida vazia não a torna significativa”[8], é necessário ainda o valor, o propósito e o sentido, e todos estes desejos só podem ser supridos por Deus.
McGrath argumenta que “Nada que não seja o próprio Deus pode esperar tomar o lugar de Deus. Assim mesmo, por causa da decadência da natureza humana, há hoje a tendência natural de se tentar fazer com que outras coisas preencham essa necessidade”[9].
Assim, tem-se aqui um ponto de contato fundamental para alcançar a mente e o coração do ser humano, um desejo autentico que só é saciado pelo próprio Deus, isto permite que os indivíduos estejam mais abertos a boa nova do Evangelho.
Mais uma vez McGrath argumenta sobre o sentimento de desejo e sua utilidade na proclamação do Evangelho:
Esse sentimento bem documentado de insatisfação é um dos pontos de contato mais importantes para a proclamação do evangelho. Em primeiro lugar, tal proclamação interpreta esse sentimento vago e sem forma definida como um anseio por Deus. E, em segundo lugar, prontifica-se a satisfazê-lo.[10]
Claro, alguns críticos têm tentado contra-argumentar reafirmando a não existência de Deus e afirmando que Ele não passa de uma invenção humana criada para satisfazer estes desejos mais profundos do ser humano.
Dois exemplos são o psicanalista Sigmund Freud e o filósofo alemão Ludwing Feuerbach, pelo qual Freud possuía grande admiração.
Armand Nicholi Jr., psiquiatra de Harvard comenta sobre os dois autores.
A respeito de Freud, Nicholi alega que “Freud afirma que a nossa ambivalência em relação à autoridade dos pais – especialmente os sentimentos positivos dessa ambivalência – formam a base do nosso desejo profundamente assentado por Deus”[11], e sobre Feuerbach, “A sua tese central em A Essência do Cristianismo é que a religião é simplesmente a projeção da necessidade humana, uma realização de desejos profundamente assentados”[12] (grifo do autor).
Mas C.S. Lewis, um dos maiores apologistas do século XX dá a sua resposta acerca do sentido da vida:
Se o universo inteiro não tivesse sentido, nunca perceberíamos que ele não tem sentido – do mesmo modo que, se não existisse luz no universo e as criaturas não tivesse olhos, nunca nos saberíamos imersos na escuridão. A própria palavra escuridão não teria significado[13] (grifo do autor).
E o autor prossegue, acerca dos desejos não satisfeitos: “Se descubro em mim um desejo que nenhuma experiência deste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui criado para um outro mundo”[14].
Assim, embora o predicamento humano não apresente uma prova conclusiva para a existência de Deus, ele serve como um indicativo de Sua existência e da finalidade para qual o ser humano foi criado, o senso de eternidade, propósito, valor e sentido foi implantado no homem pelo próprio Deus com o propósito de atraí-lo para si.
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 26. ed. Petropolis e Bragança Paulista: Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2012.
CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
LENNOX, John. Por que a ciência não consegue enterrar Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
MCGRATH, Alister. Apologética cristã no século XXI: ciência e arte com integridade. São Paulo: Editora Vida, 2008.
_____. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.
MORELAND, J.P. Racionalidade da fé cristã: argumentos para sua defesa. São Paulo: Hagnos, 2013.
NICHOLI, Armand M. Deus em questão: C.S. Lewis e Sigmund Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida. Viçosa: Ultimato, 2005.
ZACHARIAS, Ravi. O grande tecelão: como Deus nos molda por meio dos acontecimentos da vida. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
NOTAS
[1] MCGRATH, Alister. Apologética cristã no século XXI: ciência e arte com integridade. São Paulo: Editora Vida, 2008, p. 68.
[2] CRAIG, William Lane. Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 66.
[3] NIETZSCHE, Friedrich. apud CRAIG, 2012, p. 72.
[4] MCGRATH, 2008, p. 69.
[5] RUSSELL, Bertrand. apud LENNOX, John. Por que a ciência não consegue enterrar Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 9.
[6] AGOSTINHO, Santo. Confissões. 26. ed. Petropolis e Bragança Paulista: Vozes e Editora Universitária São Francisco, 2012, p. 27.
[7] ZACHARIAS, Ravi. O grande tecelão: como Deus nos molda por meio dos acontecimentos da vida. São Paulo: Shedd Publicações, 2009, p. 162.
[8] MORELAND, J.P. Racionalidade da fé cristã: argumentos para sua defesa. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 167.
[9] MCGRATH, Alister. Paixão pela verdade: a coerência intelectual do evangelicalismo. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 68.
[10] MCGRATH, 2008, p. 69.
[11] NICHOLI, Armand M. Deus em questão: C.S. Lewis e Sigmund Freud debatem Deus, amor, sexo e o sentido da vida. Viçosa: Ultimato, 2005, p. 33.
[12] NICHOLI, 2005, p. 27.
[13] LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009, p. 52.
[14] LEWIS, 2009, p. 182.

fonte: 
http://www.napec.org/apologetica/predicamento-humano/ 

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